A presença de brasileiros no futebol árabe não é novidade há algum tempo. Entretanto, além dos jogadores e técnicos, é nos bastidores que Paulo, ou Paulinho, como é conhecido no mundo do futebol, atua. Gaúcho e santacruzense, o massagista da seleção dos Emirados Árabes Unidos já atua desde 2020 fora do país.
Contratado para a função de massagista, Paulinho nos contou um pouco de sua trajetória, de seu conhecimento no futebol nacional e internacional, além de falar sobre Copa do Mundo, é claro. Confira a entrevista completa abaixo.
Entrevista completa com Paulinho, massagista da seleção dos Emirados Árabes
Pergunta: Quem é o Paulinho? Qual a história de vida e o momento de carreira?
Resposta: "Comecei no Avenida. Aqui no Brasil, já trabalhei em clubes todas as divisões do Campeonato Brasileiro, clubes da Copa do Brasil, Copa Verde e fui indicado para o médico responsável pelo Departamento Médico da seleção dos Emirados Árabes Unidos. Hoje estou indo para o meu terceiro ano e está muito bom."
Pergunta: Você foi para um país onde o futebol está crescendo e se desenvolvendo. Como é o nível do futebol árabe? Existe uma grande diferença em relação ao futebol brasileiro?
Resposta: "Acredito que não, pois muitos estrangeiros trabalham lá. Treinadores, jogadores e na seleção em que trabalho o técnico da seleção principal é argentino, da seleção olímpica e do sub-17 um espanhol. Alguns jogadores sul-americanos estão se naturalizando e futuramente terão novos nomes.
O futebol está evoluindo, até porque o país existe há apenas 51 anos. Tudo ainda é muito novo."
Pergunta: Assim como no futebol brasileiro, existe um limite de jogadores estrangeiros por clube?
Resposta: "Na liga existe. Entretanto, os jogadores mais novos, com menos de 20 anos, ganham visto de residência e com isso, não contam como estrangeiros. Os mais velhos não conseguem, mas os atletas mais novos utilizam esta ferramenta."
Pergunta: Como é a rotina de treinamentos no futebol árabe?
Resposta: "Por conta do calor, os treinamentos de campo são feitos durante a noite. Outros exercícios, como academia e piscina, são feitos durante o dia. Durante junho e setembro, nos períodos mais quentes do ano, os clubes optam por um camping na Europa."
Pergunta: Como foi seu início de carreira?
Resposta: "Foi algo bem inusitado. Sempre gostei e acompanhei futebol. Ajudei muito o futebol amador. Um dia fui acompanhar um treino e me pediram para ajudar os jogadores como massagista.
Depois do Avenida, trabalhei na ASSAF, no Santa Cruz, no Brasil de Farroupilha, em 6 clubes de Santa Catarina, em São Paulo, no Cuiabá, no Luverdense, no Juventude, e o futebol é muito bom, pois fazemos muitas amizades. Sempre me pergunto sobre onde cheguei, e o mais importante é acreditar no sonho e não abaixar a cabeça."
Pergunta: Como é a diferença técnica e econômica entre os clubes no futebol árabe?
Resposta: Lá existem os clubes de ponta, que contam com ajuda do governo. Outros times possuem um sheik, e com isso, a condição financeira fica melhor. Alguns clubes têm mais condição de contratar melhores jogadores, mas dentro de campo não existe muita diferença.
Pergunta: Como é o interesse da população árabe em relação ao futebol?
Resposta: "Quando cheguei, não pude ter uma amostra por conta da pandemia. Mas depois percebi que as pessoas gostam muito. Há um tempo atrás, fui comprar ingressos para assistir uma partida e não tinham mais ingressos disponíveis. É uma maneira um pouco diferente de torcer, mas é bem legal."
Pergunta: Mesmo de longe, você acompanha o futebol brasileiro. Como você avalia o cenário do futebol brasileiro?
Resposta: "Acredito e torço para que melhore o fator financeiro. Hoje, com as empresas comprando os clubes, está melhorando. Terá um cenário diferente por conta de alguns clubes terem melhores condições financeiras, mas alguns jogadores não terão objetivo de sair."
Pergunta: A Copa do Mundo está sendo realizada próxima ao país onde você mora. Além disso, está sendo realizada em um período diferente. Como você observa o quesito físico na competição neste período do ano?
Resposta: "Acredito que qualquer seleção tem profissionais de alto nível, que identificam quando o atleta está bem ou mal fisicamente. Então acredito que não deva influenciar muito.
Para mim, a diferença que ninguém conhece é a estrutura de seleções de Marrocos e Sérvia, por exemplo. São estruturas ótimas e que não perdem para a CBF. Neste quesito o Brasil parou um pouco no tempo, acreditando que o fator técnico e o talento levam a algum lugar sozinho."
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